Vidro em loja infantil

22 de julho de 2016

“Era uma loja muito engraçada, era brilhante, envidraçada…”. Quando lembro meu sócio cantarolando isso na inauguração, me dá arrepios!

Resolvemos aderir a uma franquia de loja de brinquedos mas, no meio do caminho, desistimos da franquia – mas seguimos com a ideia de montar a loja. Mas nós, inventivos e criativos que éramos, queríamos fazer uma loja diferente.

Na nossa cidade haviam duas lojas do tipo, e ambas tinham aquela carinha padrão de loja de interior, com balcões de madeira sem graça e que não chamavam a atenção de quem passava pela rua. Queríamos fazer alguma coisa diferente disso, e fizemos.

Prateleiras de Vidro, uma saída, uma jogada de mestre, NÓS INOVAMOS!

Usamos prateleiras de vidro pela loja toda, pra dar uma cara futurista, de “outro planeta” e atrair as crianças de longe. Mas claro, essas prateleiras tinham cantos arredondados, pra evitar acidentes. Afinal, haveriam crianças transitando ali dentro.

Mas na véspera da inauguração, quando meu sócio “tirou” essa musiquinha e ficou cantando pela loja afora, me deu uma sensação de que aquilo ali talvez não fosse boa ideia…

Vidro-em-loja-Infatil

Vidro em loja Infatil

Aparência bacana

No dia da inauguração, fizemos o que o figurino manda: na porta, um pipoqueiro e uma máquina de algodão doce; lá dentro, uma moça distribuindo balões coloridos com a logo da loja. Tudo de graça! Bandeirinhas coloridas, música do Balão Mágico e vendedoras com cara de tia do jardim da infância chamando as crianças pra irem brincar lá dentro.

Os pais, claro, nos olhavam com ódio, porque a tentação sobre os filhos era inevitável e não havia outra saída senão obedecê-los e entrar naquele lugar bacana que era a nossa loja.

Como usamos muitas lâmpadas dicroicas no projeto de iluminação, as arestas das prateleiras de vidro saltavam aos olhos com efeitos multicoloridos – os quais esperávamos que acontecessem, mas não com tanto deslumbre!

Confesso que, nessa hora, nem lembrei da musiquinha. Todas as prateleiras com incontáveis caixas de jogos, bonecas em cenários incríveis, bonecos de ação saindo “voando” de suas caixas e travando batalhas épicas entre si…

Tenho que confessar, a gente realmente caprichou. Até eu queria comprar algumas coisas ali! A loja não parecia com nenhuma outra – prova disso é que vieram “olheiros” das outras duas lojas de brinquedos da cidade pra ver o motivo de tanto alvoroço. Saíram de lá com os olhos esbugalhados. E tudo ia bem. Estávamos certos do sucesso.

Mas aí…

Aí veio o primeiro problema. Uma das crianças passou correndo debaixo de uma das prateleiras baixas e trombou com ela. As caixas que estavam sobre ela caíram todas no chão, e a pancada foi tão forte que a própria prateleira trincou.

A criança levou um corte no ombro. Os pais não sabiam o que fazer, nós menos ainda, e uma das vendedoras veio ajudar a acalmar os ânimos. Outra veio ajudar a colocar as coisas no lugar, mas ela mesma bateu a cabeça por baixo da prateleira de vidro que ficava acima desta que quebrou e, sim, quebrou a de cima.

Os vidros não era muito espessos, então não precisava uma pancada muito forte pra isso acontecer. Mais caixas no chão e uma cabeça cortada.

O saldo estava bem ruim. De um lado, uma criança chorando porque cortou um ombro numa das nossas prateleiras, do outro uma funcionária que se acidentou no primeiro dia de trabalho em outra das nossas prateleiras.

Todo o encanto da loja desapareceu, e já víamos pais saindo de lá apressados com os filhos, na tentativa de evitar que eles também se machucassem. A loja era uma armadilha gigante.

Pra nossa “sorte”, não houveram mais intercorrências, mas aquilo tudo nos fez pensar e refazer o projeto da loja.

Mantivemos algumas das prateleiras de vidro, mas as mais baixas e acessíveis às crianças nos mudamos para madeira – mas com formatos diferentes e engraçados. Onde foi possível, usamos iluminação especial para tirar a cara de “clássico” da madeira. Mas vidro, mesmo, a gente evitou.

A funcionária voltou pra trabalhar no dia seguinte, mas aquela criança do ombro cortado nós não vimos mais.